Em
Folha de São Paulo, 17/09/2013.
Muitos
adultos têm se angustiado para educar seus filhos, ou melhor, para saber o
melhor caminho a tomar na prática educativa. Fui interpelada por uma mãe
confusa frente a tantas orientações diferentes, e muitas vezes contraditórias,
a respeito da educação dos filhos. "Uma hora é para elogiar, outra hora o
elogio prejudica; há quem diga que é preciso dizer não com muita firmeza, e há
os que afirmam que os pais não devem ser autoritários. Tem também a vida
escolar: é bom ou não os pais se envolverem? Afinal, como devemos agir?"
Ao
ouvir a reclamação dessa mãe, dei toda razão a ela. Vivemos um momento de
produção incessante do conhecimento, em todas as áreas, e de difusão
instantânea de informações que, por sinal, consumimos vorazmente.
Tomemos
como exemplo a medicina. Se quisermos cuidar bem de nossa saúde atendendo a
todas as informações médicas a que temos acesso, nos veremos em maus lençóis. O
colesterol prejudica o sistema cardiovascular ou não? Devemos -ou não- tomar
medicamento para controlar tal índice? Ingerir glúten é ou não prejudicial? E a
lactose? Usei esses dois exemplos apenas porque li nos últimos dias reportagens
e artigos, totalmente contraditórios entre si, a respeito desses assuntos. Mas
a lista é enorme.
A
mesma coisa acontece com a educação dos filhos que, hoje, é um dos assuntos que
sempre aparece nas mídias. Temos informações de todos os tipos sobre esse tema
porque o conhecimento não é neutro; é produzido por nós, que temos valores e
ideologias. Sabemos também que tudo que é escrito pode ser lido de diferentes
maneiras. Além disso, há também o conhecimento que perde o seu valor científico
ao ser transformado em regras, em receitas, dogmas ou bordões.
Exemplo:
"Elogiar a criança colabora para que ela construa uma boa autoimagem de
si". Caro leitor, deve ter sido bem difícil para a criança sobreviver a
esse longo período de elogios constantes. Para nossa sorte, elas reagiram. Vi
uma cena inesquecível nesse sentido. Um garoto de cinco anos teve seu trabalho
com tintas elogiado pela professora. "Você gostou?" perguntou ele
novamente. Frente à resposta afirmativa e entusiasmada da professora, ele
mandou: "Que mau gosto!".
Ah!
E não podemos nos esquecer das pressões que os pais sofrem de movimentos
sociais que têm como base a defesa de alguns preceitos: alimentação, consumo
etc. Os pais que, por algum motivo, não conseguem se encaixar nas premissas
desses movimentos culpam-se e, portanto, perdem a potência no seu exercício
pessoal da maternidade e paternidade.
Qual
a saída? Saber que o que conduz a educação familiar são as tradições de cada
família, os valores priorizados, as virtudes consideradas valiosas e,
principalmente, a afetividade envolvida entre os integrantes do grupo. Não a afetividade melosa de incontáveis
declarações de amor ao filho, e sim a amorosidade de introduzi-lo na vida como
ela é, de dar banhos de realidade no filho de acordo com a idade que ele tem.
O
maior desafio dos pais frente a tantas correntes educacionais e pressões
sociais talvez seja o de conseguir ficar conectado com as informações que vêm
do conhecimento, ou seja, externas, e, ao mesmo tempo, preservar a cultura do
grupo familiar, essa panelinha que não deve nem pode se tornar uma
microssociedade anônima.
Fazer
escolhas seguindo argumentos pessoais e familiares e honrá-las; agir com
bom-senso, coerência e coragem para rever posições; não ter medo de errar
porque nós, pais, erraremos sempre, agindo assim ou assado: esses são alguns
pontos que podem ajudar os pais em sua -cada vez mais- árdua tarefa educativa.
Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as
principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e
dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. Escreve às terças na versão impressa
de "Cotidiano", Jornal Folha de São Paulo.
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