segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A LIÇÃO DE CASA

Fazer lição de casa nem sempre é divertido. Na verdade, cá entre nós, algumas vezes é muito chato mesmo! Uma das minhas principais missões como pai hoje é tentar vencer essa triste fatalidade.
Imagino o drama dos professores. Como avaliar se as crianças estão aprendendo? Como identificar quem não está acompanhando o andar da carruagem? Como estimular o apetite dos pequenos aprendizes pelo saber? E os pais, como devem colaborar?
Situação A: a lição é fácil. Segure a ansiedade. Se você cair na tentação de resolver para o filho, vai anular o esforço da descoberta.
Situação B: a lição é difícil. Segure a pose. Finja que sabe. Tarefa árdua. O que dizer ao filho, nitidamente angustiado, que não sabe por onde começar uma lista com “50 razões para amar o Brasil”? E pior. Na minha frente, uma pilha das minhas “lições de casa” do trabalho e mais contas para pagar? Naquela tarde, eu teria uma longa lista de razões para odiar o Brasil. Mas a professora de português do Miguel queria justamente o contrário.
Seguro a pose. Convido o moleque para ocupar um lugar ao meu lado na bancada do escritório para enfrentarmos juntos, cada um no seu quadrado, o fantasma das nossas lições de casa.
Com a autorização do Miguel, publico abaixo trecho da lição de casa dele com as razões para amar o Brasil:
Ver o Santos ganhar um jogo ao vivo;
Ver o Massa ganhar na Fórmula 1;
Ouvir a rádio 89 de São Paulo tocando rock;
Tomar sorvete com os amigos;
Comer a sagrada feijoada;
Respirar fundo o ar puro da zona rural;
Comer uma apetitosa piz-za aos domingos;
Andar de bicicleta no parque Villa-Lobos, em São Paulo;
Andar de caiaque;
Mergulhar com cilindro;
Conhecer novas culturas;
Fazer uma bela bagunça durante o Carnaval;
Curtir o som da banda Mamonas Assassinas;
Comer bife com batatas fritas no almoço;
Comer a deliciosa paçoca produzida somente no nosso Brasil;
Se refrescar com a água da piscina no calor;
Votar com urnas eletrônicas;
Ter restaurantes de outros países;
Ter frutas diferentes;
Tomar banho de cachoeira.

À primeira vista, a lista do Miguel não parecia abordar o tema “Brasil”. Olhando melhor, vi que a maioria dos itens diz respeito a coisas que fazemos juntos, em família. Quem disse que andar de bicicleta, ouvir rádio, comer pizza aos domingos, tomar banho de cachoeira não podem ser rituais de descobrimento de um país? Você que tem filhos ainda pequenos, lembre-se de valorizar cada um desses atos. O nosso país são os nossos filhos e vice-versa. Ajudando o Miguel na tarefa escolar dele, aprendi que, mais do que acertar a lição de casa, o filho quer contato para compartilhar a angústia diante de um aparente beco sem saída. Acolhidas com atenção, as crianças têm o poder de transformar um labirinto de deveres intransponíveis numa verdadeira lição de casa para os pais.
*Este texto faz parte da coluna Pai Laboratório da edição 233 (Abril de 2013) da revista CRESCER.

MARCELO TAS é jornalista e comunicador de TV. Tem três filhos: Luiza, 23 anos, Miguel, 11, e Clarice, 7. É âncora do “CQC” e autor do Blog do Tas. Aceita com gratidão críticas e sugestões sobre essa coluna no e-mail: crescer@marcelotas.com.br

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