Fazer lição de casa nem sempre é divertido. Na verdade, cá entre nós,
algumas vezes é muito chato mesmo! Uma das minhas principais missões como pai
hoje é tentar vencer essa triste fatalidade.
Imagino o drama dos professores. Como avaliar se as crianças estão
aprendendo? Como identificar quem não está acompanhando o andar da carruagem?
Como estimular o apetite dos pequenos aprendizes pelo saber? E os pais, como
devem colaborar?
Situação A: a lição é fácil. Segure a ansiedade. Se você cair na
tentação de resolver para o filho, vai anular o esforço da descoberta.
Situação B: a lição é difícil. Segure a pose. Finja que sabe. Tarefa
árdua. O que dizer ao filho, nitidamente angustiado, que não sabe por onde
começar uma lista com “50 razões para amar o Brasil”? E pior. Na minha frente,
uma pilha das minhas “lições de casa” do trabalho e mais contas para pagar?
Naquela tarde, eu teria uma longa lista de razões para odiar o Brasil. Mas a
professora de português do Miguel queria justamente o contrário.
Seguro a pose. Convido o moleque para ocupar um lugar ao meu lado na
bancada do escritório para enfrentarmos juntos, cada um no seu quadrado, o
fantasma das nossas lições de casa.
Com a autorização do Miguel, publico abaixo trecho da lição de casa dele
com as razões para amar o Brasil:
Ver o Santos ganhar um jogo ao vivo;
Ver o Massa ganhar na Fórmula 1;
Ouvir a rádio 89 de São Paulo tocando
rock;
Tomar sorvete com os amigos;
Comer a sagrada feijoada;
Respirar fundo o ar puro da zona rural;
Comer uma apetitosa piz-za aos
domingos;
Andar de bicicleta no parque
Villa-Lobos, em São Paulo;
Andar de caiaque;
Mergulhar com cilindro;
Conhecer novas culturas;
Fazer uma bela bagunça durante o
Carnaval;
Curtir o som da banda Mamonas
Assassinas;
Comer bife com batatas fritas no
almoço;
Comer a deliciosa paçoca produzida
somente no nosso Brasil;
Se refrescar com a água da piscina no
calor;
Votar com urnas eletrônicas;
Ter restaurantes de outros países;
Ter frutas diferentes;
Tomar banho de cachoeira.
À primeira vista, a lista do Miguel não
parecia abordar o tema “Brasil”. Olhando melhor, vi que a maioria dos itens diz
respeito a coisas que fazemos juntos, em família. Quem disse que andar de
bicicleta, ouvir rádio, comer pizza aos domingos, tomar banho de cachoeira não
podem ser rituais de descobrimento de um país? Você que tem filhos ainda
pequenos, lembre-se de valorizar cada um desses atos. O nosso país são os
nossos filhos e vice-versa. Ajudando o Miguel na tarefa escolar dele, aprendi
que, mais do que acertar a lição de casa, o filho quer contato para
compartilhar a angústia diante de um aparente beco sem saída. Acolhidas com
atenção, as crianças têm o poder de transformar um labirinto de deveres
intransponíveis numa verdadeira lição de casa para os pais.
*Este texto faz parte da coluna Pai Laboratório da edição 233 (Abril de 2013) da
revista CRESCER.
MARCELO TAS é jornalista e comunicador de TV. Tem três filhos: Luiza, 23 anos,
Miguel, 11, e Clarice, 7. É âncora do “CQC” e autor do Blog do Tas. Aceita com
gratidão críticas e sugestões sobre essa coluna no e-mail: crescer@marcelotas.com.br
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