Seja
biológico, adotivo, gêmeo ou até aquele amigo que vira um irmãozão, não
importa. O que vale é incentivar a cumplicidade entre eles!
Revista Crescer. Por Bruna Menegueço - atualizada
em 05/09/2013 15h00
Vai
ser duro ver as discussões, ouvir os gritos, apartar as brigas, mas a
recompensa virá quando você chegar em casa e encontrar seus filhos brincando
juntos. Ou ao perceber aquele olhar de cumplicidade entre eles quando fazem
algo que não deveriam. Se ter um irmão é um ensaio para a vida, é natural que
haja altos e baixos. E há também espaço para uma variedade de sentimentos, da
admiração à inveja. A convivência é uma oportunidade para errar, testar o
limite do outro, aprender a ter paciência, a admirar, a se frustrar e a amar.
Esse, aliás, é o desejo de todos os pais em relação a seus filhos.
Essa
companhia tem muita função. É com os irmãos que a criança tem mais chances de
aprender a se socializar e enfrentar o mundo, enquanto os pais ficam com a
tarefa de transmitir valores. Ou seja: no cotidiano, eles prestam atenção no
que o outro está fazendo, na experiência vivida, no exemplo a ser seguido. Cabe
aos pais a orientação mais ampla, a direção dos caminhos, formar caráter. E com
o irmão, por exemplo, ele aprende a encarar melhor os primeiros dias na escola,
a andar de bicicleta, a desenhar um cachorro “daquele” jeito... E não importa a
ordem de nascimento: caçula, do meio ou primogênito, todos aprendem uns com os
outros.
Pra que tanta discussão?
Gêmeos
tão, mas tão diferentes que se tornam rivais; irmãs que disputam a atenção dos
pais da infância à vida adulta. Sim, parece uma novela do Manoel Carlos
acontecendo aí na sua casa. Só que, por mais que deixem os pais malucos, brigas
entre irmãos acontecem. “Antes de perder a paciência, lembre-se do que eles
podem aprender com o conflito. Deixe que conversem, discutam, negociem e
resolvam sozinhos. Assim aprendem a barganhar, a ceder, a trocar e a se amar”,
diz a psicoterapeuta familiar Blenda Oliveira.
Se
algo passar do limite, claro, você vai intervir. Mas note que, muitas vezes, a
briga é sinal de afeto. Mais difícil é quando os irmãos simplesmente se
ignoram. “Sem brigas, mas com a possibilidade de um relacionamento no futuro
frio e distante”, diz a psicóloga Laurie Kramer em Filhos, Novas Ideias sobre
Educação (Ed. Leya).
Algumas vezes parece que irmãos se amam e
odeiam, tudo ao mesmo tempo. E o fato é que as brigas esticam o estresse para a
família inteira. A administração é difícil, mas tem que ser feita. “O
fundamental é procurar ser justo e saber que, apesar de irmãos, são pessoas
diferentes e irão se desenvolver de acordo com as próprias características”, afirma
Rita Calegari, psicóloga do Hospital São Camilo (SP). Para ela, a comparação
também deve seguir critérios. “Pode gerar rivalidade ou um desinteresse, como
se a criança pensasse ‘nem vou tentar porque meu irmão é melhor do que eu
mesmo...’”, diz a especialista. Embora trate-se de uma reação ao comportamento
dos filhos, os pais têm uma função ainda mais importante ao observar cada um.
Se não somos todos iguais, nada de tratamento em série. E a observação do
adulto pode incentivar o respeito mútuo e garantir tratamento individual a cada
filho.
Pode comparar?
Comparações não são de todo ruins. Fazem parte.
“É importante evitá-las para não viver apenas em função disso. Se
acontecer, não adianta sentir culpa. Somos comparados por toda a vida: na
escola, temos que tirar boas notas e ter o melhor comportamento; quando nos
apaixonamos, o amado pode querer ou não corresponder; para a faculdade, há
sempre um processo seletivo, e no trabalho são escolhas o tempo todo”, diz
a psicoterapeuta Blenda. Irmãos gêmeos sofrem ainda mais com isso porque todo
mundo busca as pequenas diferenças entre eles.
Outras diferenças
E quando a personalidade é diferente demais e os
irmãos não conseguem encontrar uma parceria? O papel dos pais, nesses casos, é
incentivar o respeito, em primeiro lugar. Mas vez ou outra, você se pega
pensando se não está realmente favorecendo um em detrimento do outro.
Pensa até se tem alguma predileção entre os filhos - mas tudo pode ser apenas
uma reação. No livro Não Somos Iguais (Ed. Globo), a psicóloga Judith Harris analisou pesquisas
que apontavam que o tratamento desigual dos pais em relação aos filhos não
causavam as diferenças entre um e outro. “Uma criança muito ativa
provavelmente será disciplinada mais duramente que a quieta”, diz.
Diferença,
respeito, amor, inveja, rivalidade, admiração são palavras que fazem parte do
relacionamento entre irmãos – e não podem ser ignoradas pelos pais. Está tudo
ali. Uma relação para a vida toda, que vai acontecendo a cada aniversário,
discussão, viagem, brincadeira. Uma briga ou outra vai acontecer. São irmãos,
têm intimidade para isso. E estarão ligados para sempre.
Fontes: Francisco Daudt,
psicanalista, autor do livro Onde foi que eu acertei – o que costuma dar certo
na criação dos filhos (editora Casa da Palavra) e Fátima aparecida silva,
psicóloga especialista em terapia familiar.