domingo, 14 de outubro de 2012

Encorajando o Voo!




Gaiolas ou Asas?
Rubem Alves*
(...) “Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas”. As gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Seu dono pode levá-los para onde quiser. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo. Asas não amam as gaiolas. O que elas amam é o voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.

E você, educador (a), ensina ou encoraja seus educandos?

O que é uma boa educação? 
O que os burocratas pressupõem é que os alunos ganham uma boa educação se aprendem os conteúdos dos programas oficiais. E para se testar a qualidade da educação criam-se mecanismos, provas, avaliações, exames, testes. Mas será mesmo? Será que a aprendizagem dos programas oficiais se identifica com o ideal de uma boa educação? Você sabe o que é “dígrafo”? E os usos da partícula “se”? E o nome das enzimas que entram na digestão? E o sujeito da frase “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante”? Qual a utilidade da palavra “mesóclise”? Pobres professoras, também engaioladas pelos programas... São obrigadas a ensinar o que os programas mandam, sabendo que é inútil. Bruno Bettelheim relata sua experiência com as escolas: “Fui forçado (!) a estudar o que os professores haviam decidido o que eu deveria aprender – e aprender à sua maneira...”
Qual é o sujeito da educação? O sujeito da educação é o corpo. É o corpo que quer aprender para poder viver. Esse é o único objetivo da educação: viver e viver com prazer. A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver. Nietzsche dizia que ela, a inteligência, era “ferramenta” e “brinquedo” do corpo. Nisso se resume o programa educacional do corpo: aprender “ferramentas”, aprender “brinquedos”. “Ferramentas” são conhecimentos que nos permitem resolver os problemas vitais do dia-a-dia. “Brinquedos” são todas aquelas coisas que, não tendo nenhuma utilidade como ferramentas, dão prazer e alegria à alma. No momento em que escrevo estou ouvindo uma sonata de Beethoven. Ela não serve para nada. Não é ferramenta. Não serve para nada. Mas enche a minha alma de felicidade. Nessas duas palavras, ferramentas e brinquedos, está o resumo educação.
Ferramentas e brinquedos não são gaiolas. São asas. Ferramentas me permitem voar pelos caminhos do mundo. Brinquedos me permitem voar pelos caminhos da alma. Quem está aprendendo ferramentas e brinquedos está aprendendo liberdade. Quem aprende liberdade não fica violento. Fica alegre, vendo as asas crescerem... Assim todo professor, ao ensinar, teria de perguntar: “Isso que vou ensinar é ferramenta? É brinquedo?” Se não for é melhor deixar de lado.
As estatísticas oficiais anunciam o aumento das escolas e o aumento dos alunos matriculados. Esses dados não me dizem nada. Não me dizem se são gaiolas ou asas. Mas eu sei que há professores que amam o voo dos seus alunos. Há esperança...

*Psicanalista, educador e teólogo, Rubem Alves é, também, autor de livros e artigos abordando temas religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de livros infantis.

Aos nossos "encorajadores de voos", da VILLA e da KECA, uma homenagem especial pela dedicação, coragem e muito amor no exercício da profissão de EDUCADOR! Parabéns pelo seu dia! 15 de outubro de 2012.


Andréa, Isabel, Thaís Manuelle, Lorena Moreno, Thais Lima, Sabrina, Aline, Graci, Nayana, Sueni, Miliane, Jamile, Roberta, Shirlei, Lorena Moreira, Joanna, Taiane, Sara, Gigi, Silvinha, Karina, Elane, Bob, Bruna, Valerie, Ana Paula B., Mariana, Leila, Ana Paula Morais, Ana Maria, Jorsinai, Vânia, Lelé e Dusty. Equipe nota MIL!

Um comentário:

  1. Sou feliz por fazer parte desse grupo de profissionais APAIXONADOS e que o tempo todo estão com grandes ferramentas e brinquedos interessantes em mãos.
    Tia Beta

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